quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

FERNANDO MENDONÇA - Um Homem Bom

Com 75 anos, morreu este mês na minha terra Natal (Modivas) o Agricultor FERNANDO MENDONÇA, mais conhecido por: Jom,Alves. Conhecia-o desde criança, meus pais falavam dele como sendo uma pessoa de bem, que nunca dizia não a um pedido, esmola a um pobre. Depois já moço passava por ele nas ruas e vielas  e  comprimentava-nos. Avistava-o muitas vezes pela freguesia principalmente pelos campos de que era herdeiro, pois também conheci os seus pais. Já homem e depois do 25 de Abril ajudava muito as Associações de Modivas e todo  o pessoal  (principalmente mulheres) que queriam trabalho nos campos. Lavrador muito popular, estimado e respeitado pela Freguesia, sempre atento e interessado pelos problemas das pessoas. Foi o Fundador da Cooperativa Agrícola e Leiteira Agros, chegou a Comendador e Agraciado pelo Presidente da República, Jorge Sampaio. Morreu num dia de Inverno, mas as pessoas não se esqueceram de no último e derradeiro dia entre os vivos, o acompanhar até à última morada. Foi a  maior manifestação de pesar que se viu nesta Freguesia onde quase todos os Modivenses, homens e mulheres amigos de muitos lados, que não quiseram deixar de lhe prestar a última e merecida homenagem. Gostava de ver na primeira oportunidade, os responsáveis desta Freguesia o homenagear com o seu  nome  numa Praça, Rua  ou Avenida para que fique lembrado a sua memória de Homem Bom que era. Um Homem que se ele existe merece o céu. PAZ Á SUA ALMA.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

VILAR - TERRA DO POETA CARPINTEIRO


Faz hoje 50 Anos que a nossa Freguesia e Vila do Conde ficaram mais pobres!

Com 74 anos de idade, morria Joaquim Moreira da Silva - O POETA CARPINTEIRO.

Ligado à terra de Vilar e de Vila do Conde está desde sempre e para sempre um nome: Joaquim Moreira da Silva, também conhecido por Moreira Cego porque, trabalhando nos campos desde criança, perdeu a vista de um olho num acidente com uma foicinha. Poeta porque o seu talento para criação poética era e é incontestável. Nascido em 15 de Março de 1886 e falecido em 12 de Dezembro de 1960, só aos 18 anos, quando foi para o Porto aprender a arte de carpinteiro,após uma infância e uma adolescência de trabalho no campo, aprendeu a ler. O seu desejo de cultura começou, então, a encontrar satisfação nos livros, que procurava nos alfarrobistas.

A obra que nos deixou é extensa e a sua mensagem não se perdeu no tempo. Ela denota o elevado nível cultural e verticalidade de princípios e de carácter que o caracterizavam. Moreira da Silva lutava pela justiça e sempre defendeu os pobres e os desfavorecidos. A crítica social é um tema dominante nos seus inúmeros poemas. Alguns, os "pasquins", eram feitos por encomenda, para criticar actos incorrectos ou imorais cometidos pelos poderosos.

Vivia-se no princípio do século, altura em que surgiam ideias políticas novas, como as anárquicas. E foi nelas que Moreira da Silva viu a possibilidade de construir um mundo novo e mais justo. Por isso, muitas vezes as louvou nos seus versos. É certo que hoje os tempos mudaram e as ideias evoluíram. Contudo o ideal de liberdade e justiça persiste. Na sua obra, lê-se a convicção no poder dos homens para mudarem o seu destino e a confiança num futuro diferente e melhor; sente-se essa possibilidade na magia das suas palavras e das suas imagens.

Moreira da Silva viveu num tempo em que a Igreja tinha muito puder e servia de cobertura aos sectores mais poderosos da sociedade. Contribuía para que os pobres e mais humildes aceitassem essa situação sem a contestar. Daí que ele fosse tão radicalmente contra a Igreja e contra os padres. Muitas das suas histórias têm como vilões figuras de padres, caracterizados por se aproveitarem dessa sua condição para enriquecerem à custa dos pobres, para abusarem das mulheres e para outras acções condenáveis.

A essa ideia de busca de justiça associa-se a do amor. As histórias sentimentais são inúmeras. Do amor pela humanidade e pelo próximo ao amor entre um homem e uma mulher, este é um sentimento sempre presente.

Na obra de Moreira da Silva, ganham vida muitas emoções e sentimentos: tristeza, dor, amargura, raiva, alegria, ternura, amor, confiança. Ele fala de sonhos e de realidades - retrata e critica a realidade dura do mundo em que viveu; dá expressão ao sonho da sua transformação, que acredita ser possível. Nas muitas dezenas de poemas que escreveu, criou um imaginário que continua actual. quem o lê não resiste ao seu humor cáustico e à sua brejeirice; não fica indeferente perante as injustiças sociais; acompanha-o o seu sonho por um futuro paradisíaco; aprecia com ele a beleza e o poder de renovação da Natureza. Esta obra justificava que o nome de Moreira da Silva não estivesse ligado apenas a Vilar e a Vila do Conde, garantindo-lhe uma dimensão nacional, com lugar entre os Poetas portugueses, ao lado de António Aleixo.

Os seus poemas circularam, na sua época, em pequenos folhetos, que se esgotavam rapidamente. Os "pasquins" eram impressos em folhas volantes. Havia versos que apenas circulavam oralmente e que nunca foram publicados. Muitos chegaram até hoje apenas a memória das pessoas mais idosas.Contam elas que era hábito as famílias e os amigos juntarem-se e cantarem os versos do Poeta Carpinteiro, ao som das músicas populares, acompanhados por viola.

A obra de Moreira da Silva revela as marcas da poesia popular e tradicional portuguesa. São as formas que utilizou, como por exemplo os "pasquins" e os desafios. São as estruturas versificatórias, com a utilização predominante de quadras e sextilhas, de redondilha maior e de rima cruzada. A linguagem, sempre coloquial, que se socorre muitas vezes de provérbios e de frases feitas. O mundo rural, onde há referência a costumes populares como as janeiras. A crítica mordaz, o humor, a ironia e a malícia.





Moreira da Silva teve sempre uma vida cheia de actividade e de sonhos que cumpriu ou pelos quais lutou: teve uma actividade profissional: criou uma família; lutou em favor dos injustiçados da sua terra: ensinou analfabetos a ler e a escrever. Mas sabia que acima de tudo era um poeta. Por isso dizia:


Assim com os passarinhos
Nasceram para voar,
Eu, nasci para ser poeta
Nesta terra de Vilar,
E por isto ser verdade,
Faço versos a cantar!

Sentia o seu dever cumprido com honra porque tinha a consciência do poder da sua escrita e de a ter posto ao serviço do seu objectivo supremo: a melhoria da condição humana.

Assim fazia uma auto-análise da sua obra:

Mas a todos os canalhas,
Pulhastras, pulhas, poltrões:
Eu com a minha caneta,
Afrontei perseguições
E fui-lhes rasgando a máscara
Diante das multidões.

Com a minha lavoura preta
Feita nesta agra branca
Levaram coças tremendas...
Que isto franquezinha franca
Sovas da minha caneta
Doem mais que as duma tranca!

A "sua lavoura preta" lançou sementes que encontraram terreno fértil no seu tempo. São sementes que merecem continuar a germinar, porque todos merecemos continuar a apreciar o seu valor poético.







Este texto foi tirado do livro - POESIAS - Joaquim Moreira da Silva - O Poeta Carpinteiro, e editado pela Câmara Municipal de Vila do Conde no ano de 1998. Compilado pela D.ra Armanda Zenhas

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

JOAQUIM MOREIRA DA SILVA - POETA CARPINTEIRO



Hoje vou falar de Joaqim Moreira da Silva o Poeta Carpinteiro, o Poeta de Vilar, o Poeta Cego. Para isso recorri ao livro que tenho na minha mesinha de cabeceira, e que foi editado pela Câmara Municipal de Vila do Conde, e conpilado por Armanda Zenhas.

Nasceu no dia 15 de Março de 1886 na rua da Carrapata, freguesia de Vilar concelho de Vila do Conde.


Aos sete anos foi servir para a casa de lavoura do Ventura Neves, aqui em Vilar.


Aos dezasseis foi trabalhar para outro lavrador, o Ramos da Rosa ainda em Vilar.


Aos dezoito foi trabalhar para o Porto na arte de carpinteiro, e ao mesmo tempo começou a frequentar a Escola Nocturna de alfabetização Vasco da Gama, onde aprendeu a ler e escrever.


Casou em 1909 com Rosa Maria Marques e fixou residência no lugar de Soutelo desta Freguesia.


Deste casamento nasceram 2 filhos, o António que nasceu e morreu no ano de 1910. E o Alberto que nasceu em 1902.


Homem pacato e simples, que lutou incansavelmente, e que sempre denunciou as injustiças sociais.



Fá-lo muitas vezes recorrendo à sátira e à ironia, lançando o ridículo, ora sobre grupos ou classes sociais, como a burguesia ou os padres, ora sobre indivíduos escrupulosos.





Radicalmente anticlerial escreveu:

Mas a todos os canalhas,
Pulhastras, pulhas, poltrões;
Eu com a minha caneta,
Afrontei perseguições
E fui-lhes rasgando a máscara
Diante das multidões.





Com a minha lavoura preta
Feita nesta agra branca
Levaram coças tremendas...
Que isto franquezinha franca,
Sovas da minha caneta
Doem mais que as de uma tranca!

Esclareceu e ensinou (chegando até a versificar um método de leitura) e recusando compromissos com os poderosos da economia, do governo, da administração, da igreja, que impiedosa e incansavelmente ironizou e desmascarou, sem temer as prisões em que mais do que uma vez o meteram.

Para mim propriamente
Nunca colhi benefício!
Colhi sempre como prémio
De todo o meu sacrifício,
Ódios e perseguições
Dos mestres do meu ofício.

Sem fazer delito algum,
Mas por ter nobres ideias;
E as expor em comícios
Na cidade e nas aldeias,
Experimentei diversas vezes
As tarimbas das cadeias!

Entregava á saída da missa, das casas, numa feira ou festa os seus pasquins, e as suas louvações, suas narrativas e até as suas fantasias ou suas pedagogias.
Poeta por vezes ingénuo, outras vezes utópico, frequentemente moralista e irónico que não perde em confronto com outros poetas populares, hoje mais conhecidos, como Calafate, Manuel Alves e António Aleixo.

Um dia de casamento, adro da igreja de Vilar, quando se atirou com outros rapazes para a apanha dos confeitos, como era a tradição nessa altura a foicinha que trazia à cintura o cegou de um olho, (como Camões).

Assim como os passarinhos
Nasceram para voar
Eu, nasci para ser poeta
Nesta terra de Vilar,
E por isso ser verdade,
Faço versos a sonhar!

No campo por entre as flores
Com alegres ceifeiras,
Eu cantava ao desafio
Ás vezes tardes inteiras!

Nas letras do alfabeto,
Há um imenso farol;
Quem estudar encontra nelas
Mais luz que o próprio Sol!

Joaquim Moreira da Silva - O POETA CARPINTEIRO, morreu a 12 de Dezembro de 1960 ( com hemorrogia cerebral ) tinha 74 anos de idade.
O seu funeral foi uma profunda manifestação de pesar e um dos maiores que já se fizeram na freguesia. De acordo com testemunhos recolhidos, vieram muitas pessoas do Porto e o enterro não levou padre. A bandeira da Associação Cultural e Recreativa "Honra e Dever", para quem o poeta tinha feito o hino, cobriu o caixão. Do acontecimento deram conta alguns jornais. Foram eles: O Comércio do Porto, A República, O Século, e o Norte Desportivo.

Eu sofro do coração...
Decerto findarei breve!
Mas como já tenho feito
O que um homem fazer deve,
Também já pouco me importa
Que venha a "Morte" e me leve.

Ao dormir o sono eterno
Na paz sagrada e sem fim
Repito mais uma vez
Que não quero para mim,
Nem rezas nem água benta
Nem os roncos do latim.

A quem for ao meu enterro
Demonstrar seus sentimentos
Pra conforto da família
Naqueles lances cruentos,
Quero deixar bem expressos
Os meus agradecimentos.

Deixou uma obra extensa, diversificada e de grande qualidade, abrangendo mais de uma centena de títulos.
A 12 de Dezembro de 2010 será o 50º Aniversário da sua morte.
A 15 de Março de 2011 será o 125º Aniversário do seu nascimento.

Desejava muito que todos os Vilarenses e não só comemorassem estas datas, para que o nosso Poeta seja lembrado e sobretudo para que nunca caia no esquecimento da nossa gente, da nossa freguesia e do nosso concelho. Para isso as forças vivas desta terra têm que aproveitar estas datas para dinamizar o nome e o Poeta que sem sombra de dúvida, é o maior vulto de Vilar.

A figura do Poeta Carpinteiro é hoje recordada com saudade e carinho pelas pessoas de Vilar, desconte-se aqueles que por tacanhez ou convicção são adversas à liberdade de ideias. Os velhos recordam-no de lágrimas nos olhos. Ele lutou pelo pão dos pobres e isso não se esquece fácilmente. Os novos, esses herdam dos pais o respeito por ele. Moreira da Silva era um Poeta; exercia o fascínio da magia da palavra. Era e é por isso, um motivo de orgulho para a freguesia de Vilar, de Vila do Conde de Portugal.


( No dia 14 de Março de 1998 a ASS. CULT. RECR. "Honra e Dever" sendo eu, elemento da Direcção, empenhamo-nos e organizamos uma justa homenagem no nosso Salão Nobre.

Foi com o seguinte programa;
PALESTRA: Joaquim Moreira da Silva " o Anarquista e o Poeta " Persseguido pela justiça - Proferida pela dra. Adelina Piloto
SARAU MUSICAL com: José Manuel e Júlia Rodrigues - acomp. á viola por: José saraiva
SARAU POÉTICO; Monteiro dos Santos/Maria do Céu/Carina Piloto
TEATRO DE FANTOCHES por; Grupo de Jovens da "Honra e Dever"
APRESENTAÇÃO DE UM LIVRO C/OBRAS DE Joaquim Moreira da Silva compiladas por Armanda Zenhas

Foi uma linda Homenagem e que encheu de orgulho todos os que assistiram a esta Festa.