segunda-feira, 17 de março de 2008

OS MEUS PAIS



Está a chegar o dia do Pai , e eu, antecipando essa data, (e como estou inspirado), vou-vos dizer que ; já não tenho Pai, e nem sequer Mãe. Mas tenho boas recordações deles. Eram uns Pais, que eu nem me lembro de um beijo ou um abraço vindo deles, mas mesmo assim eu adorava-os e respeitava-os. Depois, já homem e casado, ajudei-os os mais que podia, assim como eles me ajudavam naquilo que podiam, como me oferecer; umas cebolas , ou umas garrafitas de vinho, uns grelos ou nabos, enfim , nunca puderam dar muito, primeiro porque tiveram 10 filhos vivos ( 7 rapazes e 3 raparigas) segundo também não tinham muito por onde dar. Mas não era isso que importava, deram-me outra coisa que para mim foi o mais importante, ou seja, o exemplo de vida que levaram e incutiram nos seus 10 filhos. Pais de trabalho, sem eira nem beira, de caracter, de respeito, sem nunca se importarem com as dificuldades da vida, para criar e educar os seus filhos, que nos primeiros anos de casados, e com os nascimentos a um ritmo de 2 no espaço de tres anos, era uma fome do caraças. Meu pai que desde muito novo abandonou a sua terra natal ( Barcelos ) e veio á procura de trabalho, onde arranjou aqui na freguesia de Modivas - Vila do Conde, numa casa de lavoura mais concretamente na casa do Quintas, em Modivas de Baixo. Assim como a minha Mãe que também desde criança saiu da sua freguesia (Rio-Mau) Vila do Conde e veio "servir" para a casa do Roxo, outro lavrador de Modivas e também do lugar de Modivas de Baixo. Penso que um dia lá se cruzaram em algum campo ou alguma desfolhada nesta terra, deu "tilt", casaram e constituiram família. Minha mãe, na lida do campo, e ao "jornal" na casa dos lavradores, tratava dos filhos como podia, pois tinha sempre um de colo, era colocado numa" jiga" para o campo, para a ribeira, ou para onde calhava, outro agarrado á saia, e o terceiro já andava a par dela e que depois guardava os dois mais novos. Se por acaso levasse as ovelhas também tinha que meter o olho nelas. Meu pai não era nada "simpático" para com os lavradores da terra. Então quando podia , e pela calada da noite ía fazer umas "visitas" ás quintas , aos pomares, aos campos e também ás bouças dos ditos cujos. E então era um se te avias. Trazia para matar a fome aos da casa, algo que para os lavradores não fazia falta, nem sequer davam pelo "desfalque". Eram umas espigas de milho, umas abóboras ou feijões para a sopa, uns grelos ou batatas para o jantar ou umas frutas da época para tirar a barriga de misérias. Mas sempre sem estragar ou danificar as coisas. Também ia fazer umas "visitas" ás bouças, e quando se avistava um pinheiro seco, era marcado para depois pela calada da noite e com a minha mãe ou os rapazes mais crescidos, era carregado para o carro de mão até casa, por caminhos cheios de lama e covas. Muitas vezes era de madrugada quando se chegavam a casa. Houve uma fase na vida de meus pais, que eu me lembro muito bem, que era quando o meu pai vinha do Porto no final do dia de trabalho, e a puxar os "ferros" até casa, ás vezes se calhar com o calor, trazia mais sede, e parava em algumas "capelas" que havia pela estrada nº 13. Sei que a última, antes de casa era ali na subida de "Pereira" - Vilar e que a minha mãe quando via que ele vinha um bocadito alegre (depois de matar a sede e a tristeza), pegava em nós e, tudo para o quarto que era para para não se ver as cenas do meu pai. Tirando isto e dentro dessa uma fase em que os filhos eram muito novos, (não havia dinheiro nem muita comida), o meu Pai era um bom pai, educou-nos e ensinou-nos a trabalhar a terra. Todos os 7 rapazes , mal sairam da escola aos 11 anos, foram "servir" para casa de lavradores até terem idade de ir ganhar dinheiro para o Porto. As raparigas foram para a "Mestra" aprender a fazer meias ou renda. Quantas vezes Já moço e mesmo depois de casado ia aos sábados ou feriados, ajuda-los na lida do campo, que tinham de renda. Digo-vos que gostava de andar no campo!... com a sachola a plantar batatas, cegar erva, ou até sachar o milho, vindimar e fazer um bocadito de vinho lá para casa. Por isto e por outras coisas que eu tenho na memória, vos digo que os meus Pais foram espectaculares. Minha Mãe, mulher de caracter forte sempre nos ajudava e dava conselhos de vida. Gostava muito, quando era-mos pequenos, e ela queria que nós a ajudasse a descascar feijões, favas ou milho para as galinhas, e então para nos "prender", contava histórias muito compridas para que o trabalho rendesse. Morreu com 78 anos , foi sempre acarinhada por nós todos até ao fim da sua vida. Despedi-me dela no Hospital de Vila do Conde, umas horas antes dela morrer, e aí vi que minha mãe, depois de passar uma vida de trabalho e sacrifício, não merecia uma morte tão penosa. Meu Pai morreu com 93 anos em casa do meu irmão Raul. Com 91 anos ainda deu uma corrida em minha casa. Seus ultimos dias, também foram muito penosos para ele e para nós. Eu acompanhei o seu caminho até ao fim da estrada, e vi o que foram verdadeiros sacrifícios, tanto para ele como para nós. mas enfim que havemos de fazer?. Quero deixar uma palavra de agradecimento e de apresso, (pois foi uma verdadeira filha), para a minha irmã Fernanda, foi ela a maior sacrificada nos anos finais dos meus Pais. Se houver Céu, eles concerteza que lá estão. Adeus ....esperem por mim.